O Patrono

Hélio Teixeira da Rosa nasceu em Florianópolis, em 22 de setembro de 1930. Filho de João Teixeira da Rosa e Olga Luz Rosa. Diplomado em Pedagogia do Canto Orfeônico, pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina, e Bacharel em Ciências da Administração pela Escola Superior de Administração e Gerência (UDESC). Foi funcionário da Federação das Associações Rurais, Diretoria de Terras e Colonização, Departamento de Estradas e Rodagem, Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), Banco do Brasil S/A, Tribunal de Contas de Santa Catarina.

Iniciou estudos de música como violinista, aos seis anos. Participou da Orquestra do Colégio Catarinense, de Rodrigo and his Playboys, da Orquestra Juvenil de Florianópolis, Conjunto Los Três Caballeros, Orquestra Sinfônica de Florianópolis (mantida pela Sociedade de Cultura Musical), Coro da Igreja Presbiteriana Independente de Florianópolis, do qual foi regente. Foi cantor, ensaiador e assistente do Maestro Aldo Krieger, e, por diversas vezes, no Brasil e no exterior, regeu a Associação Coral de Florianópolis.

Filiado ao Conselho Regional de Administração e da Ordem dos Músicos do Brasil, foi membro, por diversos períodos, do Conselho de Cultura do Estado de Santa Catarina e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, em cargo na diretoria.

Foi pesquisador da história e do folclore de Santa Catarina e dos Açores. Fundou e dirigiu a Associação Evangélica (1957) e a Orquestra de Câmara de Florianópolis (1965), Coral do SESC (1968), Núcleo Juvenil da Orquestra de Câmara de Florianópolis (1982), Grupo Matizes Barroco (1984).

As principais apresentações incluem concertos e audições no Gravatal Hotéis Clube, em 1976; na Comunidade Evangélica de Banderfurt, em Blumenau (1981); no Auditório da Sociedade Ginástica de São Bento do Sul (1981); na Catedral Diocesana Nossa Senhora dos Prazeres em Lages (1981).

Foi jurado no II Festival de Composição e Interpretação da Canção Popular Brasileira; Canto Chapecó II (1982).

Hélio Teixeira da Rosa foi casado com Reinalda Pizani da Rosa e teve três filhos: Hélio Teixeira da Rosa Júnior, Paulo Teixeira da Rosa e Marcos Teixeira da Rosa. Faleceu em 14 de abril de 2000.


(Fonte: Rosa, Hélio Teixeira da. Dicionário da música em Santa Catarina. Florianópolis, Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 2002.)

Galeria de Fotos do Maestro


Condecoração na Universidade Gama Filho, na Sala Cecília Meirelles

Na despedida de Aldo Baldin para Alemanha

Orquestra e Coral - com Aldo Krieger

Associação Coral de Florianópolis

Igreja Luterana

Orquestra de Câmara de Florianópolis no Hotel Gravatal

Orquestra de Câmara da UFSC

Orquestra de Câmara da UFSC - Teatro Álvaro de Carvalho - 1971

Orquestras das Universidades de Santa Catarina e Pernambuco
Teatro Álvaro de Carvalho
(Cumprimentos do Maestro Isaac Karabitschewski)

Visita do Chad Mitchell Trio em 1962 - Rádio Guarujá

Sinfonia para Santa Catarina - Hermeto Pascoal
Teatro do CIC - década de 1980
Sinfonia para Santa Catarina - com Hermeto Pascoal e Rute Ferreira Gebler

Orquestra de Câmara de Florianópolis

Com os amigos Aldírio Simões, Maestro Besen, Rolando Melo,
Neco, Jair Hans e Jornalista Ilmar Carvalho, entre outros

Concerto Clube Doze de Agosto
Solistas: tenor Sérgio Sisto, cantora Ondina Berendt e o barítono Schaefer Júnior

Homenagem ao maestro em apresentação da Orquestra de Câmara e
corais Santa Cecília e Associação Coral de Florianópolis

Coral Evangélico na VI CONESPA - 1991

Conjunto Folclórico dos Açores - Teatro Álvaro de Carvalho
Hélio Teixeira da Rosa e Glauco Vasconcelos nos violinos


A música lírica de Hélio Rosa
(Aldírio Simões)

Há 60 anos a música enfeitiça Hélio Teixeira da Rosa. Em 1935, aos seis anos de idade, quando estudava na Escola Alemã, se encantou ao assistir o professor "Herr" Schneider executar, ao violino, "Alle Flugen." Poderia parecer paixão à primeira vista, não fosse a convivência musical com os dotes artísticos da mãe Olga, nativa do Saco dos Limões, batizada e coroada Imperatriz na Festa do Divino da matriz da Santíssima Trindade Detrás do Morro e, com privilegiada voz de soprano lírico, encenou Verônica em cerimônias religiosas em São José e em Lages.

De descendência portuguesa, o pai João Teixeira da Rosa, nascido na rua da Tronqueira e proprietário da livraria Rosa, na rua Deodoro, o ensinou a não esconder suas origens, mas fez questão de instruí-lo a se assumir português das ilhas açorianas. Descartava, embora veladamente, a origem lusitana do Continente. Objeção que, possivelmente, levou a matricular o filho na Escola Alemã, com o argumento e a consciência de que o homem que fala duas línguas vale por dois. Seduzido pelos acordes do professor, convenceu a família a comprar o seu primeiro violino, da família Horn, vizinha da rua Deodoro, onde viveu boa parte de sua existência. São recordações a partir dos anos 30 que estão sendo registradas em livro, em fase final de texto.

O fascínio irresistível pela música só não é absoluto porque o também historiador (e maestro) Hélio Teixeira da Rosa se debruça sobre o estudo da cultura popular e das origens açorianas. Cumplicidade manifestada em 1948, quando participou do Congresso de História e Geografia de Santa Catarina, coordenado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, que recentemente comemorou 100 anos, e do qual é atualmente tesoureiro.

Pequenos grupos musicais formados a partir de 1945, com Abelardo Blumemberg, Rodrigo Otávio de Souza e Silva, Osvaldo Mello Filho, Ivan Schmidt, Ernesto Ballstaedt, entre outros, tocando tangos e boleros que eram sucessos nos clubes Lira e Doze de Agosto, foram embriões da Orquestra Sinfônica de Florianópolis, em que o maestro Hélio Rosa teve efetiva participação.

Antes, porém, participou da Orquestra do Colégio Catarinense. Posteriormente, fundou o Coral Evangélico de Florianópolis, na igreja Luterana. Depois, já como maestro, fundou e dirigiu a Orquestra de Câmara de Florianópolis, percorrendo cidades catarinenses, estados vizinhos, com apresentação, inclusive, na Sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro, sucesso que se estendeu ao Uruguai e Argentina. Teve participação relevante, também, na Associação Coral de Florianópolis, como cantor, assistente de direção do maestro Aldo Kriger e, dirigindo o grupo, quatro inesquecíveis espetáculos no Arquipélago dos Açores.

Professor

Formado em administração e professor de pedagogia de canto orfeônico, o maestro manezinho, nascido ao pé do morro do Tico-Tico, tem uma vida inteira dedicada à música. Anualmente aproveitava as férias do Banco do Brasil - do qual é aposentado - para participar de cursos com professores renomados em São Paulo. Foi o amigo de infância e também professor e historiador Osvaldo Mello Filho, que o motivou a seguir os caminhos da pesquisa, aprofundando seus estudos também à música açoriana.

O rádio, em sua época de ouro, tem capítulo à parte no invejável curriculum do conselheiro estadual de cultura e também membro, por muitos anos, da Ordem dos Músicos do Brasil/Secção de Santa Catarina. Desde a fundação da Guarujá, com suas cornetas instaladas no sobrado da Confeitaria Chiquinho.

Entretanto, ao se transferir, por determinação do Banco do Brasil, para Joaçaba, desligou-se do microfone, promessa feita à noiva, e hoje mulher, Reinalda, mas não por muito tempo. Cyro Marques Nunes, Altair Debona Castelan e Giulio Marino, um grupo de amigos da rádio Diário da Manhã, de Florianópolis, que visitava Joaçaba, o indicou aos irmãos Adolfo e Walter Zigelli, da emissora naquela cidade.

A paixão pelo microfone aflorou e em seu retorno à Capital voltou ao convívio do rádio, integrando o cast de rádio-ator da Diário, comandada por Aldo Silva. Personagem do programa "Casa de Caboclo", era também o ator preferido das novelas escritas por Gustavo Neves, de absoluto sucesso na época, dividindo tramas com Alda Jacinto, entre outras atrizes de destaque. Com as radionovelas em declínio, o público preferindo a novidade das novelas pela televisão, Hélio Rosa decidiu, então, dedicação exclusiva à música, ideal que persegue até hoje, sempre envolvido com livros e partituras, criando arranjos e organizando grupos de cantores para apresentação em casamentos e outros eventos.

Juventude

Confessa que não cometeu nenhum excesso em sua juventude, mas também não deixou de fazer aquilo que pessoas normais de sua época faziam, embora enrustido - revela - regulado pela rígida religião protestante. Tinha preferência pelas serestas, nem sempre bem aceitas pelo delegado Trogílio Melo, ao decretar o fim dos grupos de trovadores notívagos, afamados como farristas, beberrões e pertubadores da ordem pública.

Foi preciso muita conversa para convencer o "xerife" a entender que pelo menos o grupo de Hélio Rosa era bem comportado: "Tínhamos preferência por fazer seresta para às internas do Colégio Coração de Jesus. As freiras vinham à janela mas não deixavam que as moças saíssem da cama. No dia seguinte recebíamos bilhetinhos apaixonados, com o namoro ocorrendo nos encontros nas sessões do cine Ritz."

A idade não é empecilho para o atribulado Hélio Rosa continuar respirando música por todos os poros, passar os jornais em revista diariamente via internet, inclusive os dos Açores, convivendo em harmonia com os três filhos Hélio Júnior, Paulo e Marcos e seis netos. Atualmente, se dedica a edição de livro sobre a sua vivência na rua Deodoro - "Rua Deodoro e sua história"- dos anos 30 e à exaustiva pesquisa para elaboração de um dicionário da música catarinense, com cerca de quatro mil verbetes.

A inspiração para reviver a rua Deodoro nasceu ao ler um poema da Dete Piazza e o livro encerra com o capítulo "Os sons da minha rua." Resume o escritor: "Além dos sons tirados de vozes de canto e dos instrumentos musicais, do ruído do pequeno trânsito de automóveis, ônibus, carretas e carros puxados por eqüinos, ouviam-se, desde cedo, pela manhãs, os chamamentos dos mais diversos vendedores, com seus próprios refrões característicos. O leiteiro, o padeiro, o verdureiro, o jornaleiro, os vendedores de peixes e camarões, os que vendiam balas e doces, alguns usavam apito, outros flautas pan e matracas, para chamar a atenção dos moradores para os seus produtos. O ruído próprio do vagonete sobre os trilhos da firma Hoepcke, das máquinas da marcenaria dos Daminelli, do martelar da funilaria do Faraco e da oficina do d'Alascio, da máquina da serraria a cortar toras e das polias que movimentavam as máquinas do Café Vesúvio, ambas do seu Chico Nappi. E transportando móveis ou pianos, os carregadores braçais cantando em ritmo binário e em tom grave, dando cadência aos seus passos, o sempre repetitivo:

Êh, êh, Maria Joana

Êh, êh, Maria Joana..."

Sobrinho de Altair Rosa, primo do escritor Adolfo Boos Júnior, e dos extrovertidos irmãos Paulo e Gastão Rosa e do apresentador de tevê Gilberto Luz, a caminho dos 70 anos Hélio Teixeira da Rosa continua fazendo o que mais gosta: música, lustrando o piano Erard, relíquia francesa do século 18 e as violas açorianas de doze e quinze cordas, doadas pelo Governo Regional dos Açores.

Os acordes que permeiam o seu dia-a-dia fazem do maestro uma pessoa de comportamento saudável, bem-humorado e de vida singela, convivendo com pessoas simples dos morros da região da Mauro Ramos nos bares da periferia. "É onde aproveito para conversar e fazer minhas anotações. Ouvindo sempre se aprende alguma coisa."

(Matéria veiculada no jornal AN Capital, em 6 de julho de 1999).