A construção de uma obra chamada coral*

A música constitui-se de sons e silêncio. Utiliza-se o termo “pausa” para indicar a ausência do som em um determinado espaço de tempo de uma obra musical. E foram 47 anos de “pausa” até que durante o VI Simpósio Nacional que tratou não de obras musicais, mas sim de obras públicas, realizado de 18 a 23 de novembro de 2001, em Florianópolis, que o então Presidente Conselheiro Salomão Ribas Júnior aventou a possibilidade de criar o coral do Tribunal de Contas, tendo como inspiração o Hino Nacional interpretado pelo servidor Rogério Guilherme, na abertura do simpósio, e a passagem do Coral dos Servidores do Tribunal de Contas do Mato Grosso, que brindou os 
participantes com músicas regionais e folclóricas daquele estado, proporcionando momentos de descontração ao evento que debateu procedimentos de auditoria com ênfase na eficiência e na qualidade das obras públicas.

O primeiro acorde havia sido dado para a criação de uma trilha sonora para o nosso Tribunal de Contas. 

Incumbido das sondagens do “terreno” para viabilizar o projeto, ou melhor dizendo, para dar contornos àquele plano visionário, o Assessor Militar, o então Capitão, hoje, Tenente Coronel Joares deu início às operações táticas. Não era preciso um serviço de informações para chegar ao servidor Evândio Souza, como elemento suspeito em portar informações privilegiadas sobre a obscura atividade coral.

Evândio, coralista da Igreja Presbiteriana, hoje, Diretor da DCE, declinou da idéia de conduzir os trabalhos musicais. Não tinha como conciliar com suas funções a frente de uma das inspetorias da Diretoria de Controle dos Municípios. Sugeriu alguns nomes de maestros conhecidos, além de considerar como opção Rogério Guilherme, por ser da Casa, como era a intenção primeira do Conselheiro Salomão e se prontificara a intermediar as conversações. Evândio fala a Rogério sobre a idéia da criação do coral. Não foi tarefa fácil para ele, já que a DMU não ficaria nada feliz em perder um técnico de seu quadro, ainda mais para uma atividade tão esdrúxula... Evândio seria, no entanto, o primeiro coralista, caso o servidor acolhesse a proposta.

Rogério, que não tinha qualquer experiência em regência coral, aceitaria o convite, desde que com dedicação exclusiva, pois teria que se inteirar de uma atividade cujos profissionais levam anos para dominar, sendo estimulados, na maioria das vezes, desde tenra idade nos conservatórios. Ele havia começado a cantar, como hobby e em espetáculos benemerentes como o “Vozes da Primavera“, após sua graduação em Administração. Com pósgraduação em Auditoria Pública, da Direção Coral poderia, apenas, confrontar atos de gestão, mediante procedimentos técnicos para detectar o cumprimento de disposições legais extensivas ao titular do cargo público que tivesse essas atribuições. Cantar não fazia parte do expediente. Reger, até então, era impensável.

Rogério, já instigado, pesquisou sobre a matéria, consultou seus amigos músicos, em especial sua professora de canto, Rute Gebler, elaborou um Plano de Implantação do Coral no TCE/SC e o encaminhou à Presidência. Véspera de Natal, Evândio o chama para dizer que, na volta das férias de janeiro, o plano deveria ser colocado em prática.

A primeira reunião para captação de coralistas foi realizada neste auditório em 6 de março de 2002. Acudiram 40 interessados e, todos, independentemente dos “dotes” musicais, foram admitidos. O primeiro ensaio ocorreu no dia 11 seguinte. Foi um trabalho árduo e exaustivo. O recém-regente, por mais que estivesse estimulado, não conseguia produzir o resultado que havia planificado. Em semanas e quase em situação de desespero, solicita à Presidência a vinda de um profissional de técnica vocal, de preferência que dominasse um instrumento harmônico - como é utilizado na maioria dos corais bem-sucedidos - para que o sonho não virasse um pesadelo. Mais uma vez a Presidência da Casa confiou no agora Regente e acenou positivamente para que a contratação fosse realizada.

Em 8 de abril daquele ano, chega ao Coral a Soprano, Professora de Técnica Vocal e pianista Cláudia Todorov, modificando a dinâmica dos ensaios. Todos ficaram motivados com a “aquisição” da famosa cantora que já havia encantado a muitos nas montagens locais de óperas e musicais. O curso do coral havia sido corrigido e os resultados iriam empolgar a todos - aos que cantavam e aos que ouviam.

Foram tantas as apresentações empolgantes! Muitas em nosso Tribunal. Outras, ao levarmos à música aonde o povo estava, como nas cerimônias públicas da Assembléia Legislativa, do Tribunal de Justiça, do poder executivo estadual. Nos Shoppings, parques, Museu Cruz e Sousa, teatros, clubes, hospitais, albergues para idosos e menores e nos encontros de corais que participamos; nas três edições do Musipratos, espetáculo que criamos para angariar fundos para portadores de necessidades especiais. Levamos a música àqueles que podem celebrar cada nota cantada e àqueles que se alegram em apenas sentir nossa presença, pois nos ouvir já não é o mais importante - a vibração dos coralistas parece os acalentar, fazendo com que esqueçam de suas aflições.

Estivemos representando a comunidade do Tribunal de Contas de Santa Catarina em várias oportunidades com a preocupação de mostrar que toda a Casa está norteada pela excelência em suas ações, até mesmo quando se preocupa com o lazer e a valorização artística de seus servidores, conforme o texto da Resolução TC 06 de 2 de Setembro de 2002, hoje comemorada, que instituiu oficialmente o Coral Hélio Teixeira da Rosa, nome dado em homenagem ao Maestro, pesquisador da música catarinense e ex-servidor do TCE/SC.

Já passamos por alguns contratempos, é claro. Não é fácil cantar nos contratempos. Somos levados pelos tempos fortes e até pelos fracos do compasso, aqueles em que estão o pulso da música. Isso é fácil! Mas contratempos valorizam o ritmo musical e dão ainda mais energia àqueles que conseguem sobrepujá-los... Em alguns desses contratempos precisamos contar não apenas com os colegas de trabalho, mas também com outros amigos e eles vieram, no tempo certo, acolher, confortar e reforçar um canto da esperança. Abrimos nossas portas para a comunidade há dois anos e, hoje, contamos aqui com 10 integrantes que não são servidores da Casa, mas sentem prazer em fazer parte do nosso grupo e nos honram com suas presenças.

No final de 2006, o então Presidente do Tribunal de Contas, Conselheiro Otávio Gilson dos Santos, acreditou que o grupo já estava maduro para gravar um CD e autorizou o início da produção executiva desse trabalho, finalizada com o aval do Presidente que o sucedeu, Conselheiro José Carlos Pacheco. A obra fonográfica tem sido bastante elogiada pelos ouvintes, inclusive por profissionais que sabem da dificuldade em obter um bom resultado sonoro quando um grupo que não tem a música como profissão adentra um estúdio de gravação.

O CD já ganhou o mundo. Recentemente, colocamos 4 de suas faixas disponíveis em nosso portal na Internet, com destaque para a música Ilha do nosso Maestro e Conselheiro Substituto aposentado Altair Debona Castelan, que esteve ao nosso lado em várias ocasiões, somando sonoridades ao piano, acordeom ou bandoneom, ao elaborar e trazer arranjos vocais para o coral, ou ainda por suas sensatas opiniões, frutos de seu extenso trabalho pela música catarinense.

Em 2007, durante a produção do CD, nossa estimada professora de técnica vocal teve de se afastar de suas funções. Concluir os trabalhos de gravação sem poder contar com sua presença foi tarefa árdua. Dar continuidade às apresentações, impossível. Substituí-la não seria tão fácil. Optou-se por contratar um profissional que dominasse apenas o piano. E que domínio! O “menino” Zago mostrou-se um mestre no instrumento. Um talento inspirador que vem repercutindo na musicalidade do coral. Não conseguiria dizer se o mais impressionante é seu talento ou a combinação deste talento com sua personalidade cativante. Uma raridade!

É! Não somos apenas um grupo que se reúne para cantar, como pensam alguns. Somos mais que isso. Somos uma família, como bem gosta de salientar nosso coralista Rogério Coelho. Temos dias bons, dias de muita alegria e diversão. Mas também temos problemas (quem não os têm). Dias de tensão, dias de “eu não agüento mais”. E dias de perdão... Como aprendemos nesses 6 anos de atividade! Como somos diferentes e como, no fundo, queremos as mesmas coisas...

Hoje, possuímos um repertório de 71 músicas entre peças folclóricas, populares, cívicas e natalinas, em português, inglês, espanhol, italiano e alemão (francês está a caminho), a maioria a quatro vozes, todas desenvolvidas objetivando interpretações originais. Gostaria de ressaltar o Hino Nacional Argentino cuja execução emocionou nossos “hermanos” na abertura das Olimpíadas dos Organismos de Controle Público do Mercosul, realizadas em novembro do ano passado, em Blumenau. Sua gravação, em breve, estará disponível em nosso portal eletrônico.

O Coral Hélio Teixeira da Rosa, comemora, hoje, seis anos de uma sucessão de notas musicais, orquestradas a partir de um momento de inspiração, procurando um diálogo emocional, com preocupação estética, como toda grande música. Na verdade, é uma obra musical inacabada! Que ele ainda tenha muitos compassos para dar continuidade a seu papel harmonizador e promotor de bem estar e solidariedade dentro e fora da instituição. Que sua busca pelo aprimoramento permaneça na trilha da responsabilidade e comprometimento com a alegria e a satisfação de todos aqueles que venham a ouvi-lo.

Parabéns Coral, que sejamos sempre uma grande obra do Tribunal de Contas de Santa Catarina!

(*Palavras do Regente por ocasião da comemoração dos seis anos de atividades do Coral - Auditório do TCE/SC - 1 de Setembro de 2008)


Aniversário de 6 anos do Coral Hélio Teixeira da Rosa